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17/02/2011

Sister Me.


Faz vinte anos que você perdeu o sossego. Foi quando eu cheguei.
Roubei os pais que eram unicamente seus e fiz eles me darem uma atenção extremamente exclusiva, que acabou de deixando meio de lado. Eu acordava você durante a madrugada com choros estridentes, até que alguém viesse ver o que estava acontecendo comigo. Mas você não se importava, até achava bonitinho. Ver aquele etzinho branco e redondo berrando por qualquer coisinha e precisando sempre de alguém pra acudir. Não sei como você suportou tanta pressão. Você era apenas uma criança e talvez não entendesse direito o que acontecia. Mas nunca reclamou de nada.
Pequena, as vezes, me pegava no colo só pra mostrar o quanto era forte e gostava de mim. Sua mãe, muitas vezes te xingou por causa disso. Tinha medo que, na sua pequenez e fragilidade, você me deixasse cair no chão e me machucasse. Você aprontou comigo também e saia de vítima. Muito apanhei por causa de suas estripulias, nas quais, como era menor, mais gordinha e então mais lenta, ficava pra trás e sofria pelas duas.
Brincou comigo. Aturou meu gênio insuportável desde sempre. Me ensinou bastante coisa, principalmente como ter um certo respeito por você (até porque se ele não existir, o chinelo come no lombo).
Brigou comigo, quando certa ou errada ou quando apenas afim de brigar.
Chorou comigo, quando a coisa tava feia ou quando era apenas nós duas contra o resto todo de um mundo feio e perverso. Ou quando algo de bom acontecia.
E era tão boa a cúmplicidade que fluía dali.
Não sei o que aconteceu. Se eu amadureci ou se você endureceu, só se sabe que nada está igual. Você sabe. Eu sei. E não existe nada que disfarce. Virou inverno e nós não percebemos.
Mas o que realmente importa, é que estamos aqui estamos juntas. E que mesmo depois de vinte, além disso, nada mais mudou e nada mudará. É lei concreta do brilho intensamente eterno da relação de irmandade.
Sangue do meu sangue, te preservarei para sempre. Como a primeira, como a única. Como a irmã que me atura desde antes da alegria e da tristeza. A que não se importou em ser deixada de lado quando criança e continuar esquecida depois de crescida. Você sempre foi forte, embora fraca e pequena. E eu te admiro. E eu te admirarei.
E te lembrarei.
E te amarei.
Prometo.