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30/07/2012

Segundas Filosofias.

Luto.


Por todo colorido transformado em preto e branco pelo ardor da vida.
Pela ausência de gracejos que fomos obrigados a aceitar como consequência de ter crescido.
Por toda a tristeza no olhar inocente de uma criança que perdeu os pais num acidente de trânsito.
Pela crueldade com que as flores são tratadas pelas mãos daqueles que não tem tato para lidar com tal fragilidade.
Pela essência que as pessoas tem perdido diante do tempo que não existe e que mesmo assim asfixia.
Por não mais sorrir.
Pela alegria cada vez mais rara, pelo amor cada vez mais escasso, pelo perdão sempre tão trancado, pela emoção tão endurecida no peito da gente.
Pelas lágrimas que não correm, pelo grito que não ecoa, pela vontade que se perdeu, pelo sonho que mataram.
Pelo ódio que aflora, pela música que não se pode mais cantar, pelo brilho dos olhos que desapareceu, pela simplicidade de se saber feliz.
Pela brigas que a gente perdeu, pelas vitórias que a gente nem sabe que foram vitórias, pelo sofrimento que nos ensinou a como não repetir atos. Ou a como repetir tentando até desaparecer.
Por todo coração gelado que não sabe o que amar.
Luto. De coração.
Luto para que mude. Luto para que possamos um dia aprender a ser além dos rótulos ou das dores.

Lutarei.


25/07/2012

Pré Ocupações e Queda Livre


E do que adianta acordar todos os dias e saber que tudo vai continuar sendo a mesma monotonia de sempre? De que adianta as pessoas olharem nos meus olhos com uma superficialidade felina e dizer que vai ficar tudo bem, se sei que não é verdade?

Eu realmente queria saber que um dia as coisas darão certo. Mas por favor, não peça pra que isso seja hoje. Não peça pra ser amanhã. Eu não sei quando vai ser. Enquanto isso não acontece, eu vou seguir levantando da cama, tomando meu banho e me obrigando a colocar um sorriso - falso -  no rosto para poder ser feliz, como exige essa sociedade de moral caída.

Não quero saber se a Ana tá namorando. Se o Pedro tá namorando. Se a Clara se assumiu. Foda-se isso tudo. Ninguém liga pro que eu sinto, por que eu deveria me importar com o sentimento alheio? Não. Não, muito obrigada, mas não.

Queria mesmo era poder ficar com as janelas da casa fechadas, com Renato e Maysa cantando incansavelmente na minha vitrola, aninhada no meu travesseiro e absorta do mundo. Não quero saber se a China virou potência, não quero saber se o Brasil perdeu a Copa, não me importa saber que inventaram a cura para a gripe A. Me importa minha cama. Me importa otimizar minha dor. Me deixem vivê-la, eu quero vivê-la. Não me exijam um padrão de vida que eu sei, não vou conseguir suprir.

Só por um momento eu queria poder deixar de existir. Queria poder ao extremo de ir mais longe, mais fundo. Esquecer e ser esquecida. Sair do meu mundo quando bem entender e tiver vontade. Mas não. Não me esquecem, não me deixam esquecer. Me jogam a pior notícia na cara todos os dias e esperam que eu reaja bem. "Ele tá namorando... e não é você". Eu já sei disso. Eu já sei que mais uma vez criei um mundo fantástico e ele que ele se despedaçou outra vez. "Ele tá namorando... e não é você". E querem que eu sorria a cada vez que, com olhar de pena, esses estúpidos me dirigem a palavra. Esperam que eu chore, esperneie. Mas não. Muito obrigada.

Eu não vou chorar. Eu não vou morrer. Não vou incitar nada, provocar nada. Mas também não esperem que eu levante a cabeça no dia seguinte. Tenho o direito de celebrar os três dias de lutos obrigatórios que meu coração merece. Eu sou dissimulada o suficiente a ponto de entregar meu peito ao abate e depois lhe dedicar uma oração.

Mas de verdade, me deixem aqui. Me deixem com Renato, que vai cantar em looping infinito juntos aos meus ouvidos meu pedido maior pro mundo (Só me deixe aqui quieto, isso passa), deitada no escuro. Eu fico bem assim, não é preciso preocupações.

Doravante, não sei. Procuro nem. Porque de dor, eu prefiro - e preciso - viver a presente. O resto depois vem. Na hora certa vem. E saberá ser bem aproveitada.  


24/07/2012

Cadências


Todas as melodias se foram junto com o teu perfume de café. E hoje eu choro por lembrar cada pedacinho de mim que ficou preso no teu corpo. Pedacinhos que você nem percebe. Fios de cabelos, risos frouxos, lágrimas avulsas. É, eu sei. Insignificâncias que pra mim, foram os trechos do ano que reverberaram-me. Fragmentos de uma vida. Um brilho, que como estrela, fez-se cadente. E se apagou. E morreu. E pôs fim, enfim, em toda a alegria que existiu em mim.

16/07/2012

Imprecisões





Se eu soubesse, não haveria graça, gracejo.
Se eu soubesse, seria frio. Seria inverno em mim, assim.
Se eu soubesse, fugiria pra distante, avante.
Mas eu não soube, não sei, jamais saberei.
E disso me faz por fim, não caber em qualquer botequim.


08/07/2012

Fugaz Instantâneo




Um café quente, um abraço forte. Não necessariamente nessa ordem. Não precisamente assim. Talvez um abraço quente e um café forte. Ou talvez ambos sendo ambos. Fortes e quentes. Extremos separados pela distância e unidos pela vontade. Quem dera eu pudesse voar por ai, encontrar-te onde quer que fosse e roubar-te. Fazer-te repousar em meus braços e para sempre ter o deleite de ter-te comigo. 


[texto pensado, inspirado e destinado a caipira mais gostosa desse planeta].


07/07/2012

Prólogo

Dizem que os homens usam as drogas com o intuito de fugir dos seus problemas. De fato, os percalços somem depois de uma ou outra dose e tudo se transforma em alegrias.
Mas eu não compreendia em totalidade esse sentimento de completude momentânea. Só depois de algum tempo que o entendi. Foi quando senti pela primeira vez seu abraço forte e quente sem nenhuma proteção têxtil. Nesse momento, aterrorizada, tive de aceitar a afirmação: ele era uma droga. A pior. A mais nociva de todas.




E a minha preferida.