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29/05/2012

Certas Promessas..



Um dia, sentada numa mesa de bar, eu jurei para todas as amigas que estavam comigo que eu deixaria de ser boba e passaria a usar, assim como usaram-me sem dó. Que faria jus a máxima de que se a gente pisa, a pessoa gruda. Mudaria radicalmente o comportamento e seria mais uma entregue a biscatagem.
Mas um dia de acaso, encontrei seus olhos exatos e abraço quentinho. Típico de onde você vem. Com um sorriso tão bonito e palavras tão afáveis. Encanto imediato. Foi nesse instante que percebi que juras de bêbada são como promessas de ano novo: impossíveis de cumprir.

26/05/2012

ATE 2011/2014: Porque a História Não Termina No Tchau

Há cerca de seis meses, escrevi uma carta aberta de despedida àqueles que me acolheram, suportaram, aguentaram durante aquele ano tão maravilhoso que pudemos dividir todas as noites. Escrevi que os amava muito e estaria sempre ali, embora estivesse deveras longe.

Pois bem, estou aqui hoje, para dizer que sou uma desistente de sonhos e explicar o porquê. Antes que alguém aponte o dedo e me chame de covarde, deixo-os de sobreaviso que não é necessário, mas sinta-se a vontade se o quiser fazer. Não vou repudiar ou dizer o contrário, até porque ir contra o óbvio é ilusão. Ladrei demais e perdi a oportunidade de morder a segunda chance que eu ganhara naquele momento. No entanto, entendi que não seria o meu lugar. Por que haveria de me empenhar em fazer algo que eu já sei tão bem? Predestinação? Talvez, se eu acreditasse. E cresci o suficiente para poder erguer a fronte e enfrentar a estrada mesmo com pedras me fazendo cair durante o percurso.

Fiquei. Outros se foram. Ousaram querer e foram atrás, e agora, são mais felizes distantes. Ou não. Alguns permaneceram, o que é regra natural. E me alegra saber que também seguiram a amadurecer. Seguiram inocentes. Seguiram bravos. Seguiram companheiros. E até os que seguiram arrogantes me alegram. Fico feliz em ver tudo no mesmo lugar, a estante de bagunça organizada. Tudo no seu devido cantinho. Heterogêneos como sempre, divisíveis como nunca. Não digo que todos se tornaram maleáveis, mas a maioria passou a ouvir ao invés de somente escutar. Alguns continuam fúteis e intragáveis, mas é até engraçado vê-los assim, tão cheios de si e vazios de razão.

 Os meus continuam sendo "os meus". Desligados, realistas, engraçados, centrados, preocupados, irritados, próximos. Seguem as mesmas pinturas em quadros mais bonitos. Não há como explicar tal relação. Não há como entender. São, se tornaram partes intrínsecas de meu corpo. Sua distração e animação me contagiam, envolvem e divertem. E o melhor: sem esperar nada, absolutamente nada em troca. Um alívio. Porque entendo que minhas piadas, sorrisos e palavras não são o suficiente para poder retribuir tanto bem que me fazem. Principalmente quando incitam-me a continuar, impondo como um desafio. Nada paga o que eles me fazem sentir quando perto, longe, bem ou mal. Num todo miscigenado em tons coloridos de diversidade. Embora as normais, esperadas e comuns desavenças, todos se unem quando o interesse é mútuo e beneficia. Não importa a forma, o importante é que juntos somos melhores. Já disse isso uma vez e repito até a exaustão se preciso. Somos ótimos quando um.

Há também os que entraram agora. Que entre seus erres puxados e esses chiados ainda não se acostumaram com a briga pelotense e a loucura econômica. Tão distintos em sua mistura que encanta ao pronunciar de cada palavra. Os gaúchos que me perdoem, mas (depois do nosso sotaque tão carregado) nada é mais bonito que um sotaque interiorano ou capital de fora. Lindos em sua sutileza e determinação, coragem e amadurecência. Sair da zona de conforto, parar num lugar completamente desconhecido e mesmo assim, tirar de letra, não é para qualquer um. São guerreiros os que conseguem com êxito e maestria. 

Neles, enxergo-nos 2014, quando entramos. Tão diferentes e únicos. Classificáveis num simples olhar. O aloprado, o nerd, o centrado, o revolucionário, a guriazinha, a brava, a mãe, o forçado, o festeiro. Mas num todo, sonhadores assim como nós fomos. Somos. Conviver com eles tem sido-me uma benção diária. Sempre uma nova piada, um novo riso, um outro cigarro, uma outra conversa. São também parte de mim.
Se pudesse classificá-los como partes do meu corpo, diria-os meu cabelo. Uma comparação um tanto infame, se não disse que vocês 2014, são meus órgãos vitais. Posso passar os próximos quatro anos em companhia desses outros que (sobre)vivo bem, mas só sabendo vocês na sala ao lado. Porque sem vocês não dá. Utilidade maximizada é na Vênus com vocês. Bem-estar é Fofão debatendo História da Economia. A nossa história que bem ou mal, incorpora um erre puxado de vez em quando. Porque eu falo. Porque faz bem variar. Mas no fim, lá no finalzinho mesmo, a essência de toda a felicidade é a cerveja no posto rindo da Contabilidade Social.

09/05/2012

A Menina Que Roubava Livros. (I)

Você já a viu antes, tenho certeza. Em suas histórias, seus poemas, nos filmes a que gosta de assistir. Elas estão em toda a parte, então, por que não aqui? Por que não numa bela colina de uma cidadezinha alemã? É um lugar tão bom quanto qualquer outra para sofrer.
 A questão é que Ilsa Hermann tinha resolvido fazer do sofrimento sua vitória. Quando a dor se recusou a largá-la, a mulher sucumbiu a ela. Abraçou-a.
Podia ter-se matado com um tiro, ter-se arranhado ou se entregado a outras formas de automutilação, mas escolheu a que provavelmente achava ser a opção mais fraca. [...]

01/05/2012

Sob as Lentes do Meu Óculos Embaçado

Duas da manhã. Uma garrafa térmica, um livro, olhos borrados, adornados por um óculos de grossas lentes. Embaçadas. Tudo muito óbvio, sutil. Uma louca. Uma quase estranha perdida no meio de uma guerra mental pessoal com medo de tudo se dissipar depois de um banho quente.
Sou o que ninguém vê misturado com o que personifico de mim. Sou uma criação alusiva de um quase ninguém perdido entre brincadeiras com palavras soltas e números fantasiados de vida eterna. Não sou numérica, não sou número, equação, meio, inteiro. Sou derivada de uma integral mal feita de uma vida largada a mercê de uma sorte inexistente. Com sonhos coloridos guardados na alma. Sonhos que não pude comer. Não pude viver. Não pude deixar fluir adiante. Sonhos aprisionados em olhos verdes constantemente rabiscados de preto. Uma máscara, uma vida. Ilusão. E as pessoas me olham com indiferença. Com olhos de julgamento por não ser padrão, por não exata. Ser perdida.
Tenho medo de me perder e nessa perdição, acabar me encontrando e perdendo a graça. Sou graciosa, meiga. Sou macho. Sou tantas coisas aprisionadas dentro de um coração apertadinho que quando te abraça menino, tem como única oração que não me deixe, não me largue, não me abandone. Que seja sempre meu. Meu irmão. Irmão. Mesmo tendo 21 anos, acho que nunca soube ser irmã direito. Sempre estive junto, sempre passei barras e dificuldades sem esmorecer e rindo, só pra não deixar a minha sanguínea triste. Mas eu nunca soube dividir. O que é seu, é meu. O que é meu vai ser sempre só meu. Não sei ser generosa. Não sei comparar e repartir. Defeito. Minha qualidade.
Minha. Sei ser. Todos. Sei ser. Ninguém. Sei mais. Ser da minha solidão, da minha angústia, da minha dor forçada. Não sei viver alegrias. Não sei ser feliz. Sorriso falso e envergonhado. Todas as outras meninas tão sortudas e tão bonitas e tão desejadas e eu com meus livros e óculos de grau e minha cara de nerd. Sozinha. E eu só queria um abraço. Desses que sufoca e faz sofrer quando afasta. Um urso. E me dou quando quero receber. E não recebo nunca. Sou carente, careta, cabeça, coração. Sei guardar uma vida inteira dentro de mim. Não ser discreta. Ser publicação que ninguém mais quer ler, porque é complicada, é extensa. É. E sou avesso, inverso, verso. Buscando prosa, poema, texto, crônica, composição, canção e melodia. Ser além, aquém, de quem. Ser tua, só tua. Ser homem. Sou mulher.