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27/10/2011

Finge



Que eu não fui nada.
Faz de conta que eu nunca fiz você sorrir.
Esquece, mesmo que de mentira, todas as boas lembranças que você tem nós.
Joga fora todos os presentes que eu te dei.
Rasga todas as fotos, cartas, bilhetes.
Afoga todas as sms que eu te mandava durante o medo da madrugada.


Enquanto eu finjo que a sua ausência não me doí feito a morte.

24/10/2011

Conselhos de uma velha em crise


Cuidado com cada passo que você dá.
Os mesmos pés que te levam para o paraíso, podem te fazer cair do precipício.
Antes, cuide dos seus olhos, aguce seus sentidos.
Guarde os ensinamentos da infância
E aceite a máxima de que ninguém vai longe em caminhos já trilhados.
Limpe seu coração e esqueça qualquer ofensa.
Inocente-se
Meça suas palavras.
Cuide de seus dentes, eles lhe farão falta.
Agarre toda e qualquer oportunidade; descarte as que perceber que não são feitas para você.
Erre a rua, duas ou três vezes; o erro enobrece.
Não tenha medo de sorrir ou aplaudir sozinho algo que lhe encantou.
Não admire-se com o novo ou dispense as coisas velhas.
Despreze o morno; o que não te desperta o amor ou o ódio, não vale a pena.
Fale com Deus; Ele estará pronto para te ouvir e gostará de ser lembrado.
Seja firme, não abra mão daquilo que você acha certo. E lute até o fim por isso.
Mas também não faça disso uma lei e obrigue todos a seguirem. Liberdade consta na Constituição.
Não seja ríspido com quem te ama; eles serão os primeiros a te reerguer do chão.
Seja seu, antes de mais nada.

15/10/2011

Deixa, que o céu caiu faz tempo.

Deixa a música acabar, a noite passar, o bar fechar, a festa terminar e a vida sumir. Porque eu já ando cansada de todas essas idas e vindas e sempre terminar sozinha e embriagada lembrando de você numa mesa de buteco. Sabe, eu esperava que mesmo aos trancos e barrancos, a gente pudesse tentar ser feliz do nosso jeitinho meio desajeitado de ver as coisas. Mas você nunca quis arriscar sair da zona de conforto pra tentar uma aproximação mais eficiente. Sempre quis ficar onde quase tudo é certo, onde quase tudo é doce, quase não há dor, quase. Sempre tão morno, tão enjoativo e indeciso.

Desde que eu cismei, fui atrás. Nunca me importar em ir, cair, chorar, machucar, respirar fundo e levantar firme, pronta pra próxima queda. Eu lutei por nós, eu sonhei por nós. E o pior de tudo, amei por nós. Nessa colocação verbal mesmo. Nós. Meu amor sempre foi tão imenso que não importa a intensidade do que você sentia por mim, eu cobria com todo o afeto que eu tinha por você e tudo bem. Mas você não deu importância pra importância que eu dei. E isso pra mim, foi o pior dos venenos.

Quando me dei por conta, tinha perdido tudo. Foi como se depois de um abraço forte, a pessoa me atravessasse um punhal no peito. Foi triste. Chorei. Deprimi. Mas cuidava para não mostrar fraqueza. Um dia minha mãe me disse que, enquanto houvesse uma mulher que chore por um homem, existem dois homens rindo dessa mulher. Sempre segui a risca, mas negligências eram inevitáveis. Era frio e eu sentia sua falta. Daniels não consolava mais, a mão do Cuervo não tinha mais o mesmo poder e Jonnhy, com esse nunca contei. Mas mesmo assim ainda recorro a eles.

Enquanto isso, deixa anoitecer, o bar abrir, a festa começar, a música tocar e a vida, deixa esse fingir que existe, porque na realidade, já sumiu faz tempo.

13/10/2011

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I knew I loved you before I met you
I think I dreamed you into life
I knew I loved you before I met you
I have been waiting all my life

[Savage Garden - I Knew I Loved]

05/10/2011

Torcida.

Mesmo antes de você nascer, já tinha alguém torcendo por você.
Tinha gente que torcia para você ser menino. Outros torciam para ser menina.
Torciam para você puxar a beleza da mãe, o bom humor do pai.
Estavam todos torcendo para você nascer perfeito. Dai continuaram torcendo.
Torceram pelo seu primeiro sorriso, pela primeira palavra, pelo seu primeiro passo.
O seu primeiro dia de escola foi a maior torcida.
E de tanto torcerem por você, você aprendeu a torcer.
E o primeiro gol, então?
Começou a torcer para ganhar muitos presentes e flagrar Papai Noel.
Torcia o nariz para o quiabo e a escarola. Mas torcia por hambúrguer e refrigerante.
Começou a torcer para um time.
Provavelmente, nesse dia, você descobriu que tem gente que torce diferente de você.
Seus pais torciam para você comer de boca fechada, tomar banho, escovar os dentes, estudar inglês e piano.
Eles só estavam torcendo para você ser uma pessoa bacana.
Seus amigos torciam para você usar brinco, cabular aula, falar palavrão.
Eles também estavam torcendo para você ser bacana.
Nessas horas, você só torcia para não ter nascido.
E por não saber pelo o que você torcia, torcia torcido.
Torceu para seus irmãos se ferrarrem, torceu para o mundo explodir.
E quando os hormônios começaram a torcer, torceu pelo primeiro beijo, pelo primeiro amasso.
Depois começou a torcer pela sua liberdade. Torcia para viajar com a turma, ficar até tarde na rua.
Sua mãe só torcia para você chegar vivo em casa.
Passou a torcer o nariz para as roupas da sua irmã, para as ideias dos professores e para qualquer opinião dos seus pais.
Todo mundo queria era torcer o seu pescoço.
Foi quando você começou a torcer pelo seu futuro.
Torceu para ser médico, músico, advogado.
na dúvida, torceu para ser físico nuclear ou jogador de futebol.
Seus pais torciam para passar logo essa fase.
No dia do vestibular, uma grande torcida se formou.
Pais, avós, vizinhos namorado(a) e todos os santos torceram por você.
na faculdade, então, era torcida para todo o lado.
Para a direita, esquerda, contra a corrupção, a fome na Albânia e o preço da coxinha na cantina.
E, de torcida em torcida, um dia você teve um torcicolo de tanto olhar para ele(a).
Primeiro, torceu para ele(a) não ter outra(o).
Torceu para ele(a) não te achar muito baixo, muito alto, muito gordo, muito magro.
Descobriu que ele(a) torcia igual a você.
E de repente vocês estavam torcendo para não acordar desse sonho.
Torceram para ganhar a geladeira, o micro-ondas e grana para a viagem de lua-de-mel.
E daí pra frente você entendeu que a vida é uma grande torcida.
Porque, mesmo antes do seu filho nascer, já tinha muita gente torcendo por ele.
Mesmo com toda essa torcida pode ser que você ainda não tenha conquistado algumas coisas.
Mas muita gente ainda torce por você.

04/10/2011

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Eu guardei
essas últimas palavras
pra um último milagre,
mas agora eu não tenho certeza.
Eu não posso te salvar
se você não deixar
Você me tem de um jeito que eu nunca estive antes .


[Gotten - Adam Levine with Slash]

02/10/2011

Eduardo e Mônica (versão para jornalistas)

Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Quando se escolhe essa profissão?
E quem irá dizer
Que não existe razão?

Eduardo abriu o livro, mas não quis nem estudar
As teorias que os mestres deram
Enquanto a Mônica tomava um esporro do editor
No fechamento, como eles disseram.

Eduardo e Mônica um dia se trombaram sem querer
A fumaça tava forte, foi difícil de se ver
Um carinha da facul do Eduardo que disse
“Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir”
Gente estranha, festa de jornalista
“Eu não tô legal, já fumei mais que devia”
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o mundinho que ele prometeu mudar
E o Eduardo, com larica, só pensava em ir pra casa
“A geladeira eu quero atacar”.

Eduardo e Mônica trocaram seus e-mails
Depois se escreveram e decidiram tuitar
O Eduardo sugeriu um call no Skype
Mas a Mônica queria ir pro Messenger teclar
Se encontraram ainda lá no tal de Orkut
A Mônica sem foto e o Eduardo sem cabelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina escrevia com um zelo.

Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ele tinha ilusão, ela sabia economês
Ela falava de finanças, cedebês e inflação
E ele ainda maltratava o português
Ela gostava do Basile, do Furtado
Do Marx, do Stiglitz, do Yunus e Cournot
E o Eduardo era um puta Zé Ruela
E vivia dia e noite vendo site pornô.

Ela falava coisas sobre a função social
Também de lead e do pescoção
E o Eduardo ainda tava no esquema
Adorno, cerveja, truco e Enecom.

E mesmo com tudo diferente
Veio mesmo de repente
Uma vontade de se ver
Os dois sonhavam transar todo dia
Só que dela a rotina era bem de foder (er-er).

Eduardo e Mônica estudaram locução, assessoria
Web, fotografia, pro CV melhorar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre fontes, off e formas de apurar.

Ele aprendeu a escrever, pegou o gosto por ler
E decidiu estagiar (não!)
E ela até chorou na primeira vez
Que ouviu a voz dele ir pro ar
E os dois já trabalharam juntos
E cobriram pautas juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que a vida foi malucamente bela
Por ter juntado os dois.

Construíram os seus blogs uns seis meses atrás
Logo após que os passaralhos vieram
Batalharam frilas, mendigaram geral
Por muito pouco o fiofó não deram.

Eduardo e Mônica viraram assessores
Levantaram uma grana, já fizeram prestação...
Só que a vida dura não vai acabar
Porque na agência tem perrengue e a mesma ralação.

E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Quando se escolhe essa profissão?
E quem irá dizer

Que não existe razão?


[Retirado do blog Desilusões Perdidas.]

Breve Conto em Azul e Vermelho

Cantando em melodias harmoniosas
Toda nossa breve história
Um conto de fadas invertido
Uma brincadeira de faz de conta de verdade
Começou como se nada um fosse
E transformou-se em todo que se é agora
Letras, sons e cor
Foi incomum, foi desigual
Mas nenhum teve medo
Era, é, será
Enquanto for e sem dor
Era? É! Será?
Não sei, não me importa.
Só quero mais de tudo que há de ser
Tudo que não deixará
O que se pode arriscar