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30/03/2012

Despedidas Tardias

Essa então é a última coisa que eu escrevo te tendo como muso inspirador e alvo certeiro das palavras desconexas e perdidas no espaço que procuram dar algum norte para a minha existência e o que eu sinto e não consigo expressar verbalmente.
Foi o fim. Eu custei a acreditar nas breves doses homeopáticas de distância e solidão as quais você me submeteu nesse último mês. Já estava desenhada a nossa breve história que não era para ser e não foi. Um fim confuso para uma história de começo estranho, de desenrolar pífio e de descrição mediana. Lembra de como tudo começou naquela noite chuvosa de novembro? Sem passado, sem nada em comum, sem rastro de caminho cruzado que nos ligasse. Nada. Você de um lado. E eu do outro. Como se fosse nada além que um milagre, uma adição divina precisa na vida de cada um. Você já aspirante a gente grande e eu ainda ensaiava os meus primeiros passos na vida. Uma criança de 18 anos abandonada ao vento, sem nenhum tostão e pós-graduada na malandragem que só quem cresce descalço na rua pode ter. Você, um rapaz com a vida ganha, filho de tão nobre e conhecida advogada persuativa e argumentativa, de tão imponente falácia e orgulho materno. Nunca se soube da imagem de pais, tampouco falava, nem fazia questão de saber quem era. Bem assim.
Foram dias de tão pura alegria, amizade e um contentamento descomedido para ambas as partes que era impossível pensar em abandono qualquer que fosse a circunstância. Era visceral a amizade nutrida entre seres de dois mundos tão diferentes. Mesmo sem se ver, sem nunca ter tido o toque, era químico o que fluía ali. Bastante tempo até um encontro dar certo. Um anos e meio. Já era uma vida que tínhamos criado sem perceber..
Parte do que eu sou hoje, veio a partir de seu incentivo. Me mostrou que quem cresce na rua, também tem a chance de ir longe. Eu sempre acreditei em você. Suas palavras me motivavam a ir mais longe, mais fundo, mais a frente sempre. Tão jovem, tão sensato, tão dono de si. Invejável. Mas eu conheci sua casca. Essa era a sua mascara de blefe. Tão forte e imponente, com toda personalidade leonina a seu favor. Se vendia bem. Me apaixonei e acabei comprado gato por lebre. Me perdi, bati a cabeça, avariei.
Eu buscava tudo, você a parte boa apenas. Levei-nos nas costas, vivi como um cão ao léu em pleno inverno. Sofri dores indizíveis, intraduzíveis. Foram litros de lágrimas absorvidas por um pobre travesseiro velho e uma coberta suja de tinta guache vermelha. Seu sangue, seu time, minha angústia, minha dor. Vermelho. Apostas, certezas. Levei cada ironia com um sorriso de tolerância  no rosto, uma faca no peito e uma lembrança. Não foi fácil. Extremizei a ponto de me anular quando você pediu. Amigos, vontades, manias, tudo guardado numa gaveta por você.
Até sua arrogância vir a tona e junto sua futilidade começar a aflorar. O que antes era macula agora se transformou em tecido rubro. Não conseguia mais suportar. Mas mesmo assim, lutava. Lutei como se minha vida dependesse disso. Me impediu de viver, dizia que eu perdi o tempo para te ver e que só queria trabalhar. Eu sonhei o melhor e você colocou três pás de areia em cima.
Agora, vejo que meu erro não foi ter resistido a suas investidas e tentativas de me fazer dormir na sua cama, por sinal, meu maior acerto até hoje. Meu erro foi ter acreditado que, histórias irreais podem acontecer e a menina sujinha criada em vila pobre pudesse virar rainha de uma império judicial. Ela pode sim se tornar grande, mas por méritos próprios. Lutando pelos ideais e reais que ela considera justos e merecidos. E é por aí que vou seguir. Quando, há dois anos, você disse que eu podia ir mais além do que eu conseguia imaginar você estava certo. Posso e você não consegue assimilar isso. Por isso usa de suas armas pra tentar me boicotar. Um menino fraco e frágil que precisa sempre ser o centro do mundo para poder existir.
E hoje eu vejo que nenhum dia convivido contigo foi perdido. Todos serviram de aprendizado de como não ser e não tratar uma pessoa disposta a tudo pela nossa felicidade. E no final dessa última escrita sobre o nosso fim "oficial", te desejo o melhor que há. Não guardo rancor, magoa, ressentimento. Nada. Perdi tudo que se referia a você em alguma estrada longe. Guardo um afeto de simpatia, é verdade, mas nada além que apenas isso. Aproveite a juventude, realiza sonhos, busca objetivos. Pode mais que imagina, eu garanto.
Eu, que achei que te dizer adeus seria bem mais dolorido e enganei-me, vou seguir teus conselhos e resgatar meus velhos vícios, manis e virtudes que adormeci quando você pedira. Tenho fumado mais que antes e bebido menos, mas vou seguir vivendo bem. Tenho quem me faça rir dizendo boas bobagens todos os dias, amigos que não se importam em me atender as 3 da manhã, aos prantos. Meus garotos que jogam videogame comigo e minhas garotas com quem eu comento sobre os garotos que jogam videogame comigo. Te desejo uns bons amigos assim também e até mesmo um amor bacana que suporte o seu ego.
E quanto ao resto, eu me cuido das emboscadas que o cupido vai me tramar. Sei me proteger bem.  No mais, a vida segue, curte e imprevisível. Sorte para você, já que a minha foi ter renascido.

28/03/2012

E se eu pedisse, você apenas ficaria?
Sem precisar de nenhum outro gesto, apenas a presença em silêncio, você ficaria?
Apenas para que eu pudesse olhar-te sem nenhum pudor, sem culpas ou vergonhas, você ficaria?
Sem que eu esperasse ou criasse um futuro, nada além do aqui e agora, você ficaria?
Sem contratos, acordos, tratos ou promessas, apenas com pela vontade, você ficaria?
E mesmo com uma vida toda antes desse pedido, você ficaria?
Se houvesse concordância na ausência de sentido, você ficaria?
Me levaria?

10/03/2012



Quando o vento soprar forte menina
Quando se armar a chuva sobre você
Quando seus ouvidos ficarem sensíveis a tormenta
Nesse momento o que você precisa
É não se amedrontar diante disso
É contra tudo no peito
A ferro e fogo
Sem medo de acertar, com vontade mesmo de errar
Certa de que o que prover é lucro
Para quem tem a certeza do não
O talvez é prêmio
E o vale a pena tentar é supremo
Cuide de você menina!
Cuide de suas armas e armaduras
Lute com força, foco e fé.
Seu percurso depende só de você
Suas vitórias também.

06/03/2012

Palavras de Uma Bêbada Que Merecem Ser Ignoradas.

Que a gente nunca foi igual, todo mundo sabe. Ele do seu jeito tão certinho, sem vícios e avesso as farras e eu, tão aberta a aventuras, a novidades, a coisas interessantes. Ao movimento. Sempre fui mais dos outros do que de mim, no bom sentido, claro. Nunca escondi isso dele, muito menos de ninguém que quisesse me conhecer. É até meio óbvio me ver e não me conhecer meio que ao primeiro olhar. Sou intensa, entregue, viva.

Mas que sempre o quis, também não é segredo. O nome dele está escrito na minha testa como proprietário único e exclusivo. Eu o amo. Não é segredo, lenda, fábula, É realidade. E não tenho medo do que pode acontecer. São dois anos e meio, não duas semanas. Eu o conheço como a palma da minha mão. Sei o quanto minha expansão o incomoda. Quero mudar para fazê-lo feliz, mas é impossível. Sou expansiva, sou intensa. Sou do mundo. Mas quero ser dele. E só.

03/03/2012

Grávida, ela esperava ansiosa a chegada do seu tão sonhado rebento. Depois de tanto esforço, tanta luta, ela conseguira concebê-lo sem ajuda de médicos, da biologia, de laboratório. Sozinha, com seu empenho e dedicação por aquilo. Todos, loucos para ver a carinha do pequeno que estava para nascer. Os avós mais que ninguém, queriam logo segurar aquele fruto de esmero e cuidado que a filha tinha tido. Ela já sabia a roupinha que vestiria seu filho, quando juntos sairiam da maternidade.

 De cada detalhe ela havia cuidado, desde o conhecimento da gravidez. Fez o pré-natal, cuidou da alimentação, não teve um deslize sequer. Chorava toda vez que ouvia o coraçãozinho dele pelo ultrassom. E não aguentava mais apenas conhecê-lo assim. Queria tê-lo em suas mãos. Como sempre sonhou.

 As 20 horas de um sábado, o parto de anunciava eminente e incontrolável. Estava pronto pra vir ao mundo. Impaciente. Fez-se então o rebuliço. Todos corriam. cada um para um lado, todos com o mesmo destino. Correram. Apressados.

 Não foi suficiente a pressa. Nasceu morta a criança. Sequer um choro, sequer um fio de vida. Nada. Todo o esforço, tempo, dedicação e a maior vontade da vida dela, não pode viver. Porque não foi suficiente toda sua pressa. Não conseguiu dar vida. Fracassou e não soube onde.

 Sem chão, precisava voltar. Mas onde encontrar forças? Não conseguia encontrar.

 Onde encontrar?

01/03/2012

21:45


Ouve!
Existe uma dor que grita
Ela rejeita aquele corpo
Não quer aquela menina que tanto chora
Sabe que ela não aguentaria o seu peso

Vê!
Ela chora porque sofre
E é sofrimento de gente grande
Em alguém que não teve tempo de crescer
Que ninguém queria amparar

Sente!
A lâmina faz seus braços sangrarem tanto
Não se importa com o corte
Suas lágrimas são mais pesadas

Toca!
Não perdeu os sonhos
Somente deixou para mais tarde
Agora ela quer ficar assim
Apenas esperando por uma dor que grita...