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20/12/2013

Pequeno Som



Esperava ansiosamente o momento da chegada. Tinha passado o dia inteiro sozinha e não aguentava mais tanta solidão. Ia do quarto para a cozinha e para a sala e depois para a varanda olhar a rua. Nunca chegava tão pertinho porque tenho medo de altura. Mas quando ouvia o bater da porta do seu carro, quanto contentamento! Corria em euforia. Fazia tanto barulho que o vizinho reclamava.

Quando a porta abria, meu Deus, eu pulava em seu pescoço. Que saudade! Seu cheiro era melhor em você no que no seu travesseiro, era mais vivo, mais forte. Muito muito mais gostoso. Mas nada comparado quando eu deitava na sua cama e você me coçava a barriga e me fazia tantos e muitos carinhos. Como eu gostava de dormir com você!

Mas um dia eu esperei e você não chegou. Não entendi. Deu sete, oito, nove e você não apareceu. Veio só uma senhora dizendo que eu não podia mais ficar na sua casa. Por quê isso? Eu andava tão quietinha ultimamente, por que eu tinha que sair da casa que agora era minha também. Ela me disse umas palavras estranhas como céu, chão e fim. Não entendi qual a ligação delas e o que elas tinha a ver comigo.

Quando dei por mim, estava outra vez na rua. Outra vez sozinha, passando frio. Agora eu tenho medo de novo. Você me deixava tão segura, enquanto deixava eu aquecer seus pés a noite. Sinto a falta do seu perfume. Por que você sumiu? Por que me abandonou?

Por que me fazer ser mais uma nesse mundo cão?

19/12/2013

Poematemática.

Sobre as coisas que eu não sei
Lembro de todas as coisas que antes esqueci
Erros, acertos e fugas
Uma hora talvez
Volte
Então enquanto espero
Vejo as pombas voarem
Vejo os bêbados passarem
Vejo as crianças correrem
Todos eles
Então corro, rápido
Longe demais, pras capitais
Deixando
Apenas
Pó.



26/11/2013

Relógios Intensos e Adiantos Não Fazem Sentido

Sei que é cedo.

Mas, e seu dissesse que todas as vezes que te vejo, sinto vontade de te dar os mais longos abraços que eu posso ser capaz? Se eu pudesse escolher ter alguém pra compartilhar todas as neuras que essa minha mente hiperativa consegue criar e dividir todos os risos mais sinceros, você aceitaria que eu te escolhesse? As vezes acho que erro na dose. As vezes acho que exagero no veneno. Veneno esse que uso pra me matar e me manter viva. Incoerente e inaceitável. Por mais que tente, eu não consigo fazer sentido. Não sou soldado. Mas, e se fosse verdade todas aquelas coisas que dizem?

Recuso a acreditar que o destino é traçado desde antes da nossa existência humana. Nosso caminho somos nós quem fazemos. Caminhamos com nossos pés até o destino final que se resume em ser feliz. Mas eu começo a desconfiar que as pessoas que cruzam esses caminhos que criamos, são nos dadas como presentes de reconhecimento. Se você é um prêmio de recompensa por eu ser uma boa menina e conseguir passar das fases-chefões da vida, eu desisto de jogar esse videogame e te trago à vida real. E te mostro os meus defeitos, te faço ver que não sou tão boa assim.

Ainda me perco em minhas próprias analogias e acho uma perda de tempo tentar explicar o incompreensível. Mas tento. Porque sei que as palavras te agarram pelo calcanhar e te derrubam e acarinham seu rosto. As histórias te fazem achar graça na vida. Me conheço pelos teus defeitos. Te entendo pelas minhas características. Coloco um espelho em minha frente e te vejo refletir. Entretanto, com um pacote maior de acertos, com sonhos (nem tão) intactos, alguns sorriso quebrados e silêncios constrangedoramente reveladores.

Te enxergo com os olhos puros de quem brinca e convida a ser feliz. Não sei se te agrada ou te repele, mas te convido mesmo assim. Porque a tua companhia me encanta e tua mão tem me guiado. Tem sido dias bonitos. Embora ainda seja cedo para dizer.

10/10/2013

Cartas Perdidas

Quando eu virei as costas naquela madrugada, era para nunca mais voltar atrás. Esquecer a vida e o endereço. Deu certo por um tempo, até eu perceber que tinha sido estúpido. Foi uma burrice mal elaborada em meios a tantos outros atos frios e calculados para darem errado. Sim, eu fiz dar errado. E eu assumo que fiz de tudo. Se me arrependo? Bom, talvez. Mas sempre fui acostumada a matar ou morrer. Preferi te matar antes de não restar nada mais de mim.

Acontece que não tem motivos para distâncias. Fui embora mas me mantenho presente, mesmo que na raiva de ter deixado um espaço vazio no teu roupeiro por um blusão que ainda está no meu. Intocado. Nunca usei, não tinha motivos. Não havia razão e não haverá. Não lembro se deixei algo, mas se sim, pode ficar. Joga fora, doa, vende, faz escambo. Ou guarda. A escolha é sua, sua propriedade, seu livre-arbítrio.

Por vezes eu sinto vontade de te ligar, ver como você está. Mas eu penso que seria uma ofensa, um pecado. Não me importa se você não quiser atender. Nessa altura do campeonato, deve até ter apagado meu número da agenda do celular. Menos mal se for assim. Você se propôs a algo que ainda não tive coragem. Ontem mesmo quase te enviei um mimo via whatsapp. A bateria acabou bem na hora de enviar. Sinal divino? Meu juízo exercendo telecinesia sobre aparelhos eletrônicos? Essa vida é um mistério.

O que eu não entendo, de verdade, é porque deixamos de nos falar. Tínhamos assunto. Podia morrer de vez em quando, mas como conversávamos. Como riamos das bobagens que saiam de nossas férteis imaginações juvenis. Somos tão jovens. Tão bobos... tão sonolentos. Na verdade, eu não sou sonolenta. Sou é monga mesmo. Admito e aceito esse fato há 22 anos. Mas acredita em mim: são as pessoas mais legais os mongas.

Mas voltando ao nós-paramos-de-nos-falar. Não preciso me alongar o quanto eu gostava de teus assuntos. Não entendia nenhum, mas falava como se fosse P.h.D. Sorry, manias. Não por querer ser mais do que eu sou, céus, jamais faria isso. Mas por querer agradar. Faço isso desde que o mundo é mundo e me conheço por gente. O que não faz tanto tempo assim, apesar de ter uma coluna bem debilitado e um fígado gasto. Bom, do fígado tu sabe. Todos sabem. Preciso parar, sério. Mas não precisa ser agora.

Depois de tanto enredar - sim, sou prolixa eu sei -, chego ao ponto que eu queria. Esclarecer de uma vez por todas os motivos e as razões por ter virado sem olhar pra trás. Sem muito explicar, claro. Não se mexe no sagrado das pessoas, cada um sabe o limite que pode ir, essas coisas. Tô disposta a me (in)dispor a isso. Um café, um open bar, um jogo na baixada ou na Boca do Lobo, tanto faz. Não importa o lugar ou a situação, o que eu quero é colocar isso em pratos limpos e poder ficar bem com isso. Porque essa foi a coisa que mais me deixou magoada comigo, ter ido embora emburrada e de uma maneira "super adulta" como eu fui.

Mas isso é apenas um desejo. Um simples desejo (hoje eu só quero que o dia termine bem ôôôô). Se quiser, despreza tudo isso. Escrevi isso em uma madrugada na qual eu bebi um pouco, então se quiser, apaga sem deixar vestígios e esquece. Pensa que foi um e-mail publicitário. Não responde se não quiser. Ler já foi o bastante. De verdade.

Caso o contato se perca pela eternidade, fica uma palavras das mais honestas possíveis. Máximo. Te considero assim. Fosse uma das pessoas mais encantadoras que eu conheci. Fosse uma das pessoas que mais me deu tapas sem perceber. E isso eu vou levar sempre.

Gosto muito de você. Independente do tempo, espaço ou maneira.
Gosto de você.

07/09/2013





Não faça isso. Não vá para esse trabalho que você odeia. Faça algo que você goste hoje. Ande de montanha-russa. Nade pelado no mar. Vá para o aeroporto e pegue o próximo voo para qualquer lugar apenas por diversão. Gire um globo terrestre, pare-o com o dedo e, em seguida, planeje uma viagem para aquele lugar. Mesmo que seja no meio do oceano, você poderá ir de barco. Coma alguma comida exótica da qual nunca ouviu falar. Pare um estranho e peça para ele lhe explicar em detalhes seus maiores medo, suas esperanças e aspirações secretas, e em seguida diga-lhe que você se importa. Porque ele é um ser humano. Sente-se na calçada e faça desenhos de giz colorido. Feche os olhos e tente ver o mundo com o seu nariz – permita que o olfato seja a sua visão. Ponha o sono em dia. Ligue para um velho amigo que você não vê há anos. Arregace as pernas da calça e entre no mar. Assista a um filme estrangeiro. Alimente esquilos. Faça alguma coisa! Qualquer coisa! Porque você inicia uma revolução, uma decisão de cada vez, toda vez que respira. Só que não volte para aquele lugar miserável para onde vai todos os dias. Mostre-me que é possível ser adulto e também ser feliz. Por favor. Este é um país livre. Você pode fazer o que desejar. Ser quem quiser. 

– Perdão, Leonard Peacock, Matthew Quick


30/07/2013

Extraviados.

Eu não vim te procurar ou descobrir quem você. Sei disso tão bem quanto a idade que me sobra na carteira de identidade. Sei quem és e você, provavelmente, também sabe quem sou. Cada pedaço seu sabe quem sou. Como sou. Minhas crises nervosas de existência ou insegurança. Sabe que sou dada a lágrimas e palavras meio tortas e perdidas, e que quase sempre nada expressam. Assim como sei de referências e preferências suas. De como não dorme antes das quatro da manhã e que não gosta de café reaquecido. E como odeia uma vida requentada. Medianamente, você não faz parte da média que aceita o que oferecem. Ou tudo ou nada. Ódio ou amor, faça a sua escolha ao toque do sinal.

Não vim para dizer o quanto sua ausência me dói e como o gelo no inverno empalidece a minha alma. Ou o quanto suas ofensas não me ferem, ao contrário do seu silêncio. Tampouco vim implorar por migalhas que farão o meu almoço de amanhã. As avessas, meu prato feito fundo não as permite porque assim você o fez, montou-o de modo a me ensinar que migalhas deixam estômagos vazios. Aprendi também que álcool em cabeça vazia desatina e faz perder o (p)rumo. E que as palavras que voam vazias, as paredes não absorvem. Seu peito foi parede. Minha retórica, o vento.

Evito me deixar cair na falácia de não dizer nada e dizer tudo pelas entrelinhas, me desculpando por cada ato que não foi culpa minha. Fraqueza que aos meus olhos tão pouco me irritava, era o que incomodava até o santo cristo que não suportava pieguismos. Mas falava sobre dor, a minha dor ausente que veio roer minhas lembranças. Do seu sorriso dormindo, do sarcasmo fugaz que eu, irônica, não entendia. Da sala que eu deixei arrumada antes de sair e da ração da gata que eu esqueci de deixar antes de sair. Esqueci. Seus blusões no meu roupeiro e minha vida na sua cômoda, ao lado do álbum de figurinhas. Espero ainda estar lá.

Espero tanta coisa que eu não sei mais pelo quê desesperar. Minha calmaria me aflige, me inquieta. Preciso sentir dor, mas não consigo. Talvez por ter chorado tanto antes, agora minha água virou pó. Agonia sentia em silêncio como sempre tudo nesses dois pobres meses. Clichê do foi-pouco-tempo-mas-valeu não enquadra a nossa foto que eu nunca vi. Nossa imagem no espelho nunca refletiu pra mim.

Não vim te dizer para voltar. Nossa missa ainda é a mesma e frequentamos os balcões nos mesmos dias. Nossa torpe vida vai continuar a ser torpe, maculada e separada. Nossos olhos ainda se cruzarão entre as mesas e cadeiras de um lugar qualquer. Nossos sorrisos talvez se atravessem em alguma piada e se fechem por isso. Mas que não permaneçam assim. Somos muito mais que um desconforto.

Somos, até segunda ordem, o que quisermos ser. E o que eu quero, é não perder o contato contigo. Só.

28/07/2013

Presesperança

Por um momento, um breve momento, senti vontade de puxar uma cadeira e sentar. Compartilhar da cerveja que estava na mesa e não fui eu que paguei. Dividir risadas e conversas que precisavam escapar entre nós todos. Explicar o porquê eu andei afastada e como eu estava ansiosa para voltar correndo pr'aquele mundo tão recente e tão impossível de querer ir embora. Fazer renascer o brilho dos meus olhos que tem se ofuscado a cada dia pela lembrança de não estar mais lá.

Por um instante, um mísero instante, eu senti a coragem necessária para outra vez pisar em cima do meu orgulho tão ferido e fazer de novo o que eu sempre fiz. Uma mão me impediu. Me agarrou pelo braço e me disse não. Uma voz dentro de mim quis gritar, minhas pernas quiseram correr para tão longe quanto pudessem. Foi quando eu lembrei que fugir não resolve nada e pior, só agrava. Eu quis dizer que não houve propósito, mas agora não tem mais importância. Me interrogo se algum dia teve.

Por um minuto, um fugaz minuto, eu quis esquecer da minha história e deixar que a amnésia reinasse. Mas existe um sulco na carne que me impede. Por um desejo, que Deus me perdoe, eu quis voltar ao passado e costurar todas as feridas. Suturar todos os caminhos para que não se bifurcassem além do esperado. Eu quis, eu quero.

Mas pela distração e desastreza, essas são coisas que hoje a vida me nega. São coisas que preciso me negar porque eu necessito que a distância seja cumprida e que o ciclo se feche. Mas existe palavras que precisam ser ditas. Minha última lágrima de dor, a que eu tenho prendido por tanto tempo, necessita cair.

Eu quis puxar uma cadeira e sentar. Mas ao contrário disso, eu virei as costas e segui andando. É assim que precisa ser. Eu acho.

16/07/2013

Transeunte.

Quando todos estavam acordando, eu ainda não tinha ido dormir.

Não me permitia dormir sem entender o mínimo do que tinha acontecido naquele quarto, naquelas últimas horas. Do abraço ao tapa, tudo correndo pelos meus olhos de uma maneira completamente desconexa e sem sentido. O que foi que eu fiz? Como eu tinha acabado naquela sarjeta, com a maquiagem borrada e o coração aos saltos dentro do peito? O que aconteceu nessa última noite? Precisava de uma explicação que só eu poderia me dar. Mas eu não conseguia. Raios, por que eu não conseguia responder essa pergunta simples? No telefone uma chamada não atendida e na alma, o vazio de se sentir perdida.

Sentia frio, mas era fevereiro. Era domingo. Era carnaval. O bloco não demoraria a passar. E eu continuava estática, na areia da praia, olhando pro nada. Na cabeça uma interrogação, na carne um arranhão e no peito, um vazio. Era tarde e eu não queria mais pensar naquilo. Quando é festa, o que nos exigem é diversão. Eu só queria entender o motivo da existência humana e debater Foucault numa mesa de bar com todos os cultos do universo. Mas que droga, eu não sou culta, por que de querer isso? Era um vírus, uma loucura. Como todas as outras, como tudo que já tinha acontecido.

Garrafas jogadas pelos cantos e o cheiro de vinho impregnado na minha roupa. Talvez de volta aos tempos Medievais, talvez uma rainha. Talvez uma nobre imponente ou somente a filha de um ferreiro qualquer, que apenas serve para dar luz a bastardos. Despertei. Meus sonhos cada vez mais confusos, minha mente cada vez mais distorcida. O que é verdade em tudo isso? Na mão uma faca, no chão sangue e no espelho... nada. Eu não me via refletir. Eu não existia mais. Minhas dúvidas me consumiram e me tomaram, até me transformar em pó. Por que ainda dói meu peito, se não existe mais nada aqui dentro?

De volta à realidade, um posto de gasolina e uma saudade. Por que precisa ser assim? Talvez o tempo cure, talvez os ventos mudem. Talvez uma vida toda. Talvez seja um quase nada escondido nas entrelinhas da esperança que apodreceu e que não tem a mínima vontade de renascer. O que está morto, não pode morrer. Se morrer uma vez, permaneça morto. Ninguém disse adeus. Não existe adeus pra uma coisa que não existiu. Ninguém se despede de um amigo imaginário. O imaginário apenas te impulsiona, porque no demais, ele não existe.

12/07/2013

Sobre a Inutilidade Da Segunda Chance

É simples.

Querer consertar, lixar e pintar as partes feias não vai mudar em nada o que aconteceu antes. Nada que cai volta intacto às mãos quando retirado do chão. Fica sempre um arranhão que mesmo escondido, se sente a ranhura.

É como aquecer comida. Ela pode ser gostosa o suficiente e não perder o sabor, mas o queijo da lasanha não derrete da mesma maneira se reaquecido. Café em segunda fervura perde o gosto. Ou assume a hipótese de jogar fora se sobrar ou vai com toda a fome do mundo e devora o que te é oferecido.

E embora se tente infinitamente lutar contra a ideia que a tudo pode se dar uma segunda chance, sempre haverá algo que impede de ser como antes. Quando existe o medo, até as palavras mudam seu tom. Muda a essência da singularidade que era. O que era único e sutil, agora se pede em frases e se conta o tempo pra não (se) machucar.

Assim como a pizza, relacionamentos não foram feitos para o micro-ondas.

21/06/2013

Nanquim

Tenho aprendido a lidar melhor com os meus tombos. Minhas quedas tenho tido como passos de dança que eu preciso aperfeiçoar. Ainda sinto o peito apertar quando eu me sinto insegura e isso tem sido menos frequente. Menos que antes ao menos. Tem cicatrizes que ainda doem quando anunciam uma chuva, mas não sangram mais. Meu sorriso que antes era intenso, hoje é imenso. Seja qual for o motivo. Eu não vou me permitir perder o brilho dos olhos e deixar de cantar aquela canção que minha criança interior adora.

Eu não mais fugir de mim.

15/06/2013

Configurações

E eu não queria nada além do que eu tenho agora.

Tenho tido bons motivos pra sorrir meu sorriso mais bonito e vestir minhas melhores botas de combate. Luto com a força de quem sabe que a queda é um mero passo de dança que a vida nos força a saber dançar. Escolhi fechar os olhos e deixar os passos saírem sozinhos.
Liguei o foda-se.
E quer saber? Tô bem assim.
Muito obrigada pelo preocupação, capitão.

08/06/2013

Teatricamente Medido

O silêncio que me acalenta é o mesmo que me aflige.
Quieto. Calado. Escuro. Parado. Estático.
No canto. Sentado. Fechado. Frustrado.
Rasgando o peito e a dor, eu digo que me diga.
A poesia que salta do peito meu
Vive também no coração teu?

23/05/2013

Anagramatizando Analogias.

Minha vida e meu roupeiro são a mesma coisa.
Desarrumados, um tanto quanto tortos. Capengando.
Muita coisa fora do lugar, muita coisa jogada nas portas. Coisas da estação passada que eu ainda não tirei dali porque achei que fosse precisar.
Quando tem um espacinho vazio, faço questão de colocar uma coisa nova que sei que não vai caber.
Se tem um cantinho organizado, remexo até ficar bem amassado. Eu não sei deixar sossegado num lugar só.
Em suma, eu me perco no meio da minha própria bagunça. E nunca tenho tempo pra arrumar.

A minha vida, muito menos.

Sobre todas as coisas que eu nunca vou saber te dizer.

Perdoa.
É que eu sempre fui de meter os pés pelas mãos e correr sem saber se a maratona teria sempre um só campeão. Eu sempre fui com muita sede ao pote e acabava derramando toda água. Fiz lambança a vida toda. Eu queria um vez saber o gosto que ter paciência traz. E fiz bagunça de novo.

Perdoa.
Porque eu não sei o que eu quero fazer. Só sei o que eu quero ser e isso, ninguém deixa. E porque eu sinto de vontade de chorar quando eu olho pra você. Talvez por paz ou por conforto.

Perdoa.
Se eu acho que tudo isso é uma mentira.

Perdoa.
Você foi um achado.

Eu só estou delirando.

19/05/2013


"Shhhh", she said. "I'm sleeping."

Just like that. From a hundread miles an hour to asleep in a nanosecond. I wanted so badly to lie down next to her on the couch, to wrap my arms around her and sleep. Not fuck, like those movies. Not even sex. Just sleep together, in the most innocent sense of the phrase. But I lacked the courage and she had a boyfriend and I was gawky and she gorgeous and I was hopelessly boring and she was endlessly fascinating. So I walked back to my room and collapsed on the bottom bunk, thinking that if people were rain, I was drizzle and she was a hurricane.


- Looking for Alasca, John Green
Deixa a menina chorar.
Não pede pra ela explicar porque caem essas lágrimas.
Ela não saberá te dizer.
Deixa a menina chorar.
Ela tá se limpando por dentro.
Deixa menina chorar.
Deixa jogar os medos fora,
deixa ficar com a insegurança estampada.
Deixa a menina.
Deixa chorar.
Chora, menina.

11/05/2013



É outono, mas hoje eu pareço uma criança de três anos que se perdeu da mãe dentro do supermercado na véspera de Natal. Perdida, assustada. Com medo de tudo que possa vir a seguir. Tenho medo da mão que vai me guiar até um lugar seguro. Eu só quero a minha mãe. Eu só quero sair correndo pro lugar mais próximo e me esconder. Quero o escuro. Quando minha mãe me encontrar ela vai me xingar por ser tão distraída. Desculpa mãe. Eu ainda não aprendi a me virar sozinha. Mas entende, eu sou apenas uma criança. Só me leva pra casa agora e faz carinho no meu cabelo até eu dormir. E não liga se eu chorar enquanto você me carrega no colo. Só faço isso porque seus braços pra mim são o melhor refúgio. Mãe, só me abraça forte e diz que tudo isso vai passar. Que tudo isso é um pesadelo e que depois de um grito, todos os monstros irão embora. Mente assim pra mim, mãe. Por favor...

20/04/2013





Ele começou a criar anagramas de "para sempre sua" até que achou um que lhe agradou: se um pesar para. Então ficou ali deitado, imaginando se o seu pesar pararia, repetiu mentalmente a já decorada mensagem, quis cair no choro, mas em vez disso sentiu uma dor no plexo solar. Chorar é algo a mais é você mais as lágrimas. Mas o sentimento que Colin carregava era um macabro choro ao contrário. Era você menos alguma coisa. Ele ficou pensando naquela expressão – para sempre- e sentiu uma queimação logo abaixo da caixa toráxica.
Doía como a pior surra que já tomara. E ele já havia tomado muitas.


 – O Teorema Katherine, John Green

26/03/2013

Quinhentos e Um

Aquele apartamento é mais meu que dele próprio. Eu moro ali mesmo tendo minha casa própria a 30km dele. Eu moro ali mesmo não morando junto. Eu moro ali na onisciência. Conheço cada dobra de parede e já aprendi a desviar dos móveis no escuro. Não topo mais o dedinho no sofá muito menos bato o quadril na quina da mesa da cozinha. Sei do problema da máquina de lavar e me acostumei com o barulho que ele faz.

Macarrão na porta de cima. Os copos juntos no centro. O açucareiro fica na porta da direita e o saleiro e demais temperos na esquerda, não pode confundir. A bombona de água mineral tem posição certa na área de serviço. Eu decorei a posição da poeira. Conheço cada sujeirinha nos cantos e onde é o esconderijo da lagartixa que vive ali. Entre a cozinha e o quarto improvisado. Vez e outra próximo ao banheiro, mas sempre pelo corredor, nunca entrando. Eu sei de cór o que diz naquela caixa de notebook guardada na estante da sala. E rio sempre quando vou reproduzir cada frase. A tv da sala não funciona porque não tem tomada perto. Não existe tv a cabo e a geladeira tem mais cerveja que comida. Na bagunça do quarto, as camisetas pelo chão se misturam com bitucas de cigarro, cinzas e meias sujas. Apesar do esforço de manter as coisas separadas, acaba tudo junto e que se dane a organização. A cama não existe mais, é apenas um colchão jogado no chão e onde nenhum lençol consegue ficar parado.

Quando surge alguma dúvida, é meu telefone que toca. "Onde eu coloquei a garrafa de amaciante?", "Tu sabe onde a minha escova de dentes foi parar ontem? Sei que tá no meu quarto, mas não tô encontrando...". Salvo pelo gongo. Ou melhor, pelas minhas coordenadas de como se guiar dentro da própria casa.

Eu não sou pertencente, mas estou contida. Faço parte de um conjunto como membro imaginário. Uma questão matemática com um i na ponta. Eu não sou daquele Marte, eu vim de Vênus pra salvar a espécie. Pra socorrer. Para orientar. Tenho data marcada pra partir, mas não quero. Se aproxima e eu reluto. Quero ficar. Me deixe ficar! Não por descuido, talvez por poesia, mas deixe-me ficar! Ninguém mais conhece o macete pra abrir o cadeado sem a chave além de mim. E não vou ensinar como faz.

07/01/2013

Equality. Igualidad. Igualdade.




Baseado nesse texto aqui: 



Nunca tinha lido o Sakamoto. Não por indisposição, mas por não conhecer o seu trabalho. Estranho isso, eu que tanto "investigo" na rede, desconhecer o trabalho genial desse cara. Hoje por acaso, esse texto caiu no colo, por assim dizer.
Não sou reacionária. Tampouco revolucionária. Defensora dos fracos e oprimidos não faz parte da minha missão de vida, eu acho. Mas sou a favor de direitos iguais, de um sistema igualitário.

Nascemos e morremos da mesma maneira. Mas somos diferenciados mesmo antes de nascer. Lá pelo quarto/quinto mês de gestação, quando aparece no ultrassom se seremos homens-que-obrigatoriamente-irão-salvar-o-mundo ou mulheres-fadadas-a-obrigação-de-cuidar-da-família-e-ser-submissa. Rosa menina. Azul menino. Não entendo o porquê dessa diferenciação se, tãnãn, somos iguais.

Menina não pode jogar futebol. Menino não pode brincar de casinha. Menina só gosta de boneca. Menino não pode usar rosa e suas variantes. É feio menina ficar brigando e ter atos/atitudes violentas. Menino é como leão, o dono. Meninas não podem ser donas de si. Meninos tem a obrigação de serem ricos. E idiotas que pensam assim tem a obrigação de permanecerem em silêncio.

Cresci em meio a garotos. Aliás, sempre tive uma relação de amizade muito mais forte com eles que gostavam de brincar, de correr, de se sujar, do que tive com as meninas que eram bonecas de vestidos rosa e olha-como-o-meu-cabelo-tá-bonito aos 7 anos de idade. E isso não fez de mim uma delinquente. Muito pelo contrário, meu caráter e personalidade fortes foram definidos por essa escolha. Sempre friso que enquanto as garotas que eu conhecia eram só frescura, eu me divertia bem mais me sujando.

O que diferencia brinquedo de menino e menina? Pela cor? Pelo o que é?
Sou da seguinte opinião (roubada do texto maravilhoso do Sakamoto): vibra? Se a resposta for sim, não é para crianças. Se for não, serve para ambos. Não vejo problema em desmistificar essa lenda e deixar um menino brincar de comidinha. Quem sabe quando crescer não vire um grande chef e orgulhe a família assim? Ou se a menina quiser jogar futebol, deixe que jogue, quem sabe ela não é a nova Marta, Formiga, Cristiane?! E aviso aos lunáticos de plantão, não é porque mulher joga futebol que é lésbica. Estereotipo é tão cruel quando um chute nas bolas/soco nos seios, sabiam!? Espero que sim.

Só algumas conclusões que eu cheguem em alguns meses de reflexão. Lugar de mulher é na política, na polícia, no jornal, no livro, no exercito, na guerra. Lugar de mulher é onde ELA QUISER! Assim como lugar de homem é na dança, na cozinha, no teatro, onde ELE QUISER. Cada um escolhe o que quer ser quando crescer.