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10/10/2013

Cartas Perdidas

Quando eu virei as costas naquela madrugada, era para nunca mais voltar atrás. Esquecer a vida e o endereço. Deu certo por um tempo, até eu perceber que tinha sido estúpido. Foi uma burrice mal elaborada em meios a tantos outros atos frios e calculados para darem errado. Sim, eu fiz dar errado. E eu assumo que fiz de tudo. Se me arrependo? Bom, talvez. Mas sempre fui acostumada a matar ou morrer. Preferi te matar antes de não restar nada mais de mim.

Acontece que não tem motivos para distâncias. Fui embora mas me mantenho presente, mesmo que na raiva de ter deixado um espaço vazio no teu roupeiro por um blusão que ainda está no meu. Intocado. Nunca usei, não tinha motivos. Não havia razão e não haverá. Não lembro se deixei algo, mas se sim, pode ficar. Joga fora, doa, vende, faz escambo. Ou guarda. A escolha é sua, sua propriedade, seu livre-arbítrio.

Por vezes eu sinto vontade de te ligar, ver como você está. Mas eu penso que seria uma ofensa, um pecado. Não me importa se você não quiser atender. Nessa altura do campeonato, deve até ter apagado meu número da agenda do celular. Menos mal se for assim. Você se propôs a algo que ainda não tive coragem. Ontem mesmo quase te enviei um mimo via whatsapp. A bateria acabou bem na hora de enviar. Sinal divino? Meu juízo exercendo telecinesia sobre aparelhos eletrônicos? Essa vida é um mistério.

O que eu não entendo, de verdade, é porque deixamos de nos falar. Tínhamos assunto. Podia morrer de vez em quando, mas como conversávamos. Como riamos das bobagens que saiam de nossas férteis imaginações juvenis. Somos tão jovens. Tão bobos... tão sonolentos. Na verdade, eu não sou sonolenta. Sou é monga mesmo. Admito e aceito esse fato há 22 anos. Mas acredita em mim: são as pessoas mais legais os mongas.

Mas voltando ao nós-paramos-de-nos-falar. Não preciso me alongar o quanto eu gostava de teus assuntos. Não entendia nenhum, mas falava como se fosse P.h.D. Sorry, manias. Não por querer ser mais do que eu sou, céus, jamais faria isso. Mas por querer agradar. Faço isso desde que o mundo é mundo e me conheço por gente. O que não faz tanto tempo assim, apesar de ter uma coluna bem debilitado e um fígado gasto. Bom, do fígado tu sabe. Todos sabem. Preciso parar, sério. Mas não precisa ser agora.

Depois de tanto enredar - sim, sou prolixa eu sei -, chego ao ponto que eu queria. Esclarecer de uma vez por todas os motivos e as razões por ter virado sem olhar pra trás. Sem muito explicar, claro. Não se mexe no sagrado das pessoas, cada um sabe o limite que pode ir, essas coisas. Tô disposta a me (in)dispor a isso. Um café, um open bar, um jogo na baixada ou na Boca do Lobo, tanto faz. Não importa o lugar ou a situação, o que eu quero é colocar isso em pratos limpos e poder ficar bem com isso. Porque essa foi a coisa que mais me deixou magoada comigo, ter ido embora emburrada e de uma maneira "super adulta" como eu fui.

Mas isso é apenas um desejo. Um simples desejo (hoje eu só quero que o dia termine bem ôôôô). Se quiser, despreza tudo isso. Escrevi isso em uma madrugada na qual eu bebi um pouco, então se quiser, apaga sem deixar vestígios e esquece. Pensa que foi um e-mail publicitário. Não responde se não quiser. Ler já foi o bastante. De verdade.

Caso o contato se perca pela eternidade, fica uma palavras das mais honestas possíveis. Máximo. Te considero assim. Fosse uma das pessoas mais encantadoras que eu conheci. Fosse uma das pessoas que mais me deu tapas sem perceber. E isso eu vou levar sempre.

Gosto muito de você. Independente do tempo, espaço ou maneira.
Gosto de você.