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30/09/2012

In Compatibilidades.

Eu preciso te tirar do sério.
Fazer-te rir um riso fácil com uma história qualquer sobre a banalidade de existir. Preciso ver a intensidade brilhar viva em teus olhos castanhos sempre tão alertas.

Eu preciso te tirar a sanidade.
Quero forçar-te a gritar todas as dores e medos que possam querer te assustar nas madrugadas frias e sozinhas quando a solidão não ter o tom para você a acompanhar. Te fazer ter vontade de escalar o Everest com as mãos e apenas com elas. Sem aparatos, equipamentos. Suas mãos sendo seu destino. Suas mãos, sua salvação ou morte.

Eu preciso te tirar a roupa.
Rasgar tua pele, sentir teu cheiro. Encontrar-me em ti e ter a certeza de que é ali o refúgio do coelho do relógio e do gato sorridente que cisma em aparecer em meus sonhos sem me dizer nada. Fugir da frugalidade e por um instante, sair de si. Ter a convicção de que gritos serão soltos, que a sanidade assistirá a tudo de longe e assustada e, os risos no acompanharam em cada segundo.

Eu preciso te tirar a alma.
Te despir dos seus (pré)conceitos, te deixar limpo de teses e teorias metaforizadas e insuficientes. Abrir seus olhos e te fazer enxergar que a vida vai além do quinto andar.

Eu preciso te tirar daqui.
Eu preciso te tirar da dança.


Eu preciso, te tirar de mim.

23/09/2012

Se. Para. Ações.

Para ser lido ao som de November Rain 


A cada hora que passa é mais difícil viver aqui. Essa casa tem todas as suas características, desde o fundamento até a decoração. Cada cantinho, cada manchinha de umidade tem pedaços seus. Não entendo porque teve que partir. Era tão cedo, você deveria ter feito mais gente sorrir. Na flor da idade, foi para nunca mais voltar. E eu, que te esperei por tanto tempo, ver-te partir assim faz-me perder toda a esperança que o mundo pode ser melhor, perder a vontade de ver as flores desabrocharem coloridas na primavera.

Hoje eu desaprendi a sorrir. Não tem mais graça sem você aqui, as coisas não dão liga, o sentido foi junto com seu lindo par de olhos. Sinto falta de seu gritar no amanhecer, sempre cheio de alegria e vitalidade. Você era um rapaz lindo e eu morria de ciúmes de toda e qualquer garota que pudesse se aproximar. Quando eu te dizia isso, pegava-me no colo e ria, um riso gostoso que vai ficar em minha memória pela eternidade.

Suas fotos ainda estão por todos os lados dentro desse lar. O nosso lar. O seu quarto, intocado, jaz assim tal como você o deixou. Com a estante de livro com faltas e seu maior orgulho em cima da cama. A guitarra que tanto incomodava o vizinho do 302, hoje também está calada, de luto. Acho que ela vestiria preto se pudesse. Garoto, você era tão bom com ela nas mãos. Seu solo de "November Rain" era melhor que o do Slash. Mas eu nunca gostei de rock. Contudo, sempre amei muito você.

Nesses últimos dias, eu não consegui dormir e voltei a fumar descompassadamente. O Jack Daniels está pela metade e o Cuervo não existe mais. E o chão da sala, repleto de papéis com declarações, composições e lágrimas. Mas não existe melodia para essa dor. Vermelha. Acho que a mesma cor pode significar coisas diferentes, mas coligadas. A dor e o amor quase sempre andam juntos., então minha teoria está correta. Só se doí por aquilo que se ama. Ou pelo que se imaginou amar. De qualquer forma, dor e amor são irmãos gêmeos, siameses pelo braço.

Sabe, eu te amei demais. Mesmo antes de conhecer-te, eu já te amava. Mesmo sozinha, eu te amei. Enfrentei tudo por você. E enfrentaria o que mais fosse preciso, porque quando ouvi sua voz pela primeira vez, soube que todo o esforço tinha valido a pena. E seguiria valendo para sempre. Eu te ensinei tudo que tinha e aprendi tanto também. Quis te proteger do mundo, mas você criou asas. E aprendeu a voar. E seus rasantes me davam medo; você era tão esperto e eu tinha tanto receio de um dia te perder. Dizem que quando a gente teme algo, isso acontece mais rápido. Pude comprovar da pior maneira possível a veracidade da frase.. Temi. Perdi. Se antes  eram dois contra o mundo, agora sou eu contra a doe e solidão.  Você me deixou. Gostou de voar.

16/09/2012

Nota de Rodapé


Sobre querer ou não, eu me abstenho. Vou conforme a música e que a melodia me leve. Leve. Eu não tenho intenção de ficar. Se quiser, você pode me acompanhar. Pode seguir meu ritmo e dançar meu tango. Caso contrário, continue com sua salsa. Seu merengue. Só não me imponha um espetáculo coreografado que eu não sei (se quero) fazer. 


13/09/2012

Winter


Ela sorri desajeitadamente. Um sorriso torto de quem tem vergonha de mostrar-se ao mundo. Mas disfarça bem. Tem muitos amigos, vai à festas, está sempre acompanhada. Mas no clarear do dia, quando os sapatos de saltos trocam de membros e ela chega em casa, o delineador que tão bem marcava seus olhos verdes escorre, manchando todo o seu rosto que agora vermelho sente-se mal.

Ela é uma rainha, mas não sabe. Sente-se sozinha a todo e qualquer momento. Acha que não sabe ser feliz. É uma prisioneira do passado, um passado que constantemente grita ao seu ouvido as mesmas frases que seus colegas da escola primária lhe diziam. Perdida, isolada. Quer correr, mas não tem forças. Não sabe levantar a voz. Sente-se mal. Lembra o passado. Era uma criança que não sabia defender-se. Ouvia e aguentava toda aquela humilhação calada, não reclamava. Não podia se dizer que era fraca, pois ninguém nunca a viu chorar por isso. Mas isso era tão corriqueiro. Quando chegava em casa, sua mãe não entendia porque tanta lágrima, tanta dor. Por vezes, implorava que a mãe ficasse ali. Precisava de sua mão e sua presença, ao menos por alguns instantes, para que pudesse ficar em paz. Sua mãe não a compreendia. Sua mãe não a compreende. Sua irmã não a compreende. Ela é marcada, mas ninguém se importa.

Então exagera. Exagera na cor. Exagera no tom, no som, no dom. Precisa de alguém que a enxergue, não que a veja apenas. Quer provar a todos que sua essência vai além da negritude que contorna seus olhos e das palavras que fluem de seus pensamentos e que ela não sabe organizar em frases. Um infinito de estrelas sem constelações, mas que mesmo assim iluminam o céu. Procura a ursa-menor, mas não lhe é essa. Não compreendeu que seu destino é ursa-maior. Tão grande. Grande como sua alma, como a sua calma. Que ela esconde. E personifica seu ser em ser louco. E canta. E ama. É contraditória e sabe. Detesta ser assim. Mas, o que se há de fazer?

Espera que algum dia, alguém lhe acolha. Escolha e recolha suas cicatrizes para curá-las. Alguém que lhe explique, com um carinho fraterno, que é tão normal ficar assim, perdido. Que saiba secar suas lágrimas com afeição e abraçá-la, acalmando-a com um chavão. "Vai ficar tudo bem!". Ela sabe que sim, só que esse ficar bem demora tanto para chegar para ela. Mas ela espera. Espera.



09/09/2012

Sofreguidão

Rasga perto um grito mudo de um solitário. Quem seria ele que não se contém em desespero e chora? Um som ensurdecedor que não se ouve, sente-se na alma e esmiúça o peito de tanta dor. É uma dor cega, uma dor surda. Uma dor com requintes de crueldade sonífera. Uma corda emaranhada entre os braços e pernas e pés, uma mordaça impedindo. Quem é?

07/09/2012

Revés



Escrevi mais um texto carteado. Uma quase carta. Um amontoado de palavras cheias de algum sentimento qualquer que pode e deve ser ignorado. Uma coleção de letras unidas em letra cursiva desenhada e bem legível.
Uma canção melodiosa e ritmada que não pode ser dançada porque não existe som. Mas mesmo assim, eu danço no som do silêncio.
Um conjunto verbal que mais parece desenho pintado com giz de cera. Riscado, rabiscado, um rascunho que não vai ser passado a limpo. E que implora para chegar ao seu destino. Mas eu me angustio em pensar nisso.
Quero. Não quero. Quero. Não devo. Quero. Não posso. Quero. Vou morrer de arrependimento depois.
Fico nesse impasse e não decido. Mas não vou mandar. Vai ser outra pra aumentar a pilha de cartas covardes. Covardes assim como eu, tão ausente de sentimentos taciturnos e cheia de medos banais. Medos que não saem com banho quente ou com uma dose alta de álcool. Eles são tatuagens feitas com ferro quente. Marcando a pele e mostrando para todos sem que eu necessite abrir a boca que sou desistente.
Sempre abro mão de tudo que sonhei. E essa outra carta é mais um tijolo nessa construção já tão bem fundamentada.