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29/06/2014

Espaço





Quando ouvi aquelas três palavras, foi como se o mundo inteiro desabasse sua fúria sobre mim. E distante, me senti a criatura mais inútil do mundo. Era muito cedo para ouvi-las, era a piada mais estúpida que a vida me obrigou a conhecer. E como se não bastasse, a sensação de labirinto se apoderou de mim. Não ter para onde correr, a não ser para o olho do furacão. Não me deram escolhas, tive que agarrar as fagulhas de força que surgiam esporádicas. Quando o fim acontece, precisa-se ser concreto, feito de pedra inabalável. Mármore.

Uma cena e a vida foi embora. Uma cena e minha vida, antes tão plana, tornou-se um caminho a ser percorrido com precaução. Ninguém merece passar pela última certeza universal da vida. Admito a precisão de uma mudança, mas não o tapa. E doeu. E dói. E doerá sempre que lembrar. Causa e circunstância, a fuga não aceitou minhas desculpas. Quando a gente encara o que não quer, aprende o triplo.

Hoje acordar virou obrigação e cozinhar tornou-se tortura. Sentar-me sozinha a mesa, ver a poltrona vazia e não ter mais a certeza da pipoca estourando nos domingos de futebol. O vazio é pior que a dor. O silêncio condena mais que o martelo.