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25/04/2012

Letícia


Mais uma dose de tequila e mais uma crise interminável de choro. Eu sei, eu sei, homem não chora, mas o que eu vou fazer se é a única coisa que consigo fazer desde que deixei aquela menina? Sei também que é tarde demais para arrependimentos, mas não consigo me conformar. Como fui tão estúpido a ponto de deixar essa mulher maravilhosa escapar por entre meus dedos?

Faziam três meses que não a via e sentia uma saudade devastadora daqueles olhos castanhos tão marcantes e daquele riso frouxo que ela tinha. Uma face linda, adornada por longos cachos loiros. Ela era o sonho de qualquer homem. Parceira do futebol e videogame, não refugava uma brincadeira de lutinha, não dava chilique quando começava a chover e ela tinha feito chapinha, até dava risada. Companheira para todo e qualquer momento. Toda a noite, me dava aquele beijo de boa noite que me fazia esquecer do mundo e dava a maior segurança do mundo. Ela era uma mãe, uma mulher, minha menina. E isso começou a me incomodar. Não conseguia suportar a ideia de que, não conseguiria viver sendo dependente emocional de uma mulher, que precisaria da opinião dela para qualquer decisão que eu quisesse tomar. Pensava que por ser homem isso não poderia e nem deveria acontecer, o que meus amigos iriam pensar de mim? Que sou pau mandado. Mas eles são idiotas. E eu também fui, no momento em que a deixei partir. Sei lá onde eu estava com a cabeça, só sei que não era no lugar. Achei que pedindo um tempo isso ia mudar e eu ia ter o poder supremo sobre a relação. ESTÚPIDO.

Como eu a fiz sofrer com isso. Sei que ela entrou em depressão. Não comia, não estudava, nem trabalhar conseguia mais. Não colocava o rosto para fora de casa. Só conseguia chorar e se perguntar o que ela tinha feito de errado. Muitas vezes, em prantos, me ligava de madrugada perguntando o porquê de tê-la abandonado e eu lá, no auge da minha idiotice dizia que não dava mais, que precisava me sentir meu e ela estava me sufocando. Soube que depois disso, ela não falava mais. E como me doeu fazer minha garotinha sofrer.

Três meses. Acho que o tempo se arrastou mais lento para ela. Mas ela superou a minha burrada. Sei porque a vi hoje. Salto alto, vestido florido e o mesmo sorriso encantador. Seus longos cachos loiros se tornaram agora um chanel na altura dos ombros e castanho. Passos fortes, típicos dela. Maquiagem bem feita. Cheia de amigas, que talvez, a ajudaram a me esquecer. Ela vai passar por mim e eu não sei o que fazer. Ela me enxergou de longe e seus olhos marejaram. Por um segundo, senti que ela queria chorar. E eu, quase não consegui segurar minhas lágrimas. Ela se aproximava cada vez mais rápido com aqueles passos firmes. E passou reto. Como se eu fosse um desconhecido. Como se nunca tivéssemos nos visto. Passou por mim como se eu fosse um rosto qualquer. E doeu.

Minha menina, o que eu fiz com você?