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01/05/2012

Sob as Lentes do Meu Óculos Embaçado

Duas da manhã. Uma garrafa térmica, um livro, olhos borrados, adornados por um óculos de grossas lentes. Embaçadas. Tudo muito óbvio, sutil. Uma louca. Uma quase estranha perdida no meio de uma guerra mental pessoal com medo de tudo se dissipar depois de um banho quente.
Sou o que ninguém vê misturado com o que personifico de mim. Sou uma criação alusiva de um quase ninguém perdido entre brincadeiras com palavras soltas e números fantasiados de vida eterna. Não sou numérica, não sou número, equação, meio, inteiro. Sou derivada de uma integral mal feita de uma vida largada a mercê de uma sorte inexistente. Com sonhos coloridos guardados na alma. Sonhos que não pude comer. Não pude viver. Não pude deixar fluir adiante. Sonhos aprisionados em olhos verdes constantemente rabiscados de preto. Uma máscara, uma vida. Ilusão. E as pessoas me olham com indiferença. Com olhos de julgamento por não ser padrão, por não exata. Ser perdida.
Tenho medo de me perder e nessa perdição, acabar me encontrando e perdendo a graça. Sou graciosa, meiga. Sou macho. Sou tantas coisas aprisionadas dentro de um coração apertadinho que quando te abraça menino, tem como única oração que não me deixe, não me largue, não me abandone. Que seja sempre meu. Meu irmão. Irmão. Mesmo tendo 21 anos, acho que nunca soube ser irmã direito. Sempre estive junto, sempre passei barras e dificuldades sem esmorecer e rindo, só pra não deixar a minha sanguínea triste. Mas eu nunca soube dividir. O que é seu, é meu. O que é meu vai ser sempre só meu. Não sei ser generosa. Não sei comparar e repartir. Defeito. Minha qualidade.
Minha. Sei ser. Todos. Sei ser. Ninguém. Sei mais. Ser da minha solidão, da minha angústia, da minha dor forçada. Não sei viver alegrias. Não sei ser feliz. Sorriso falso e envergonhado. Todas as outras meninas tão sortudas e tão bonitas e tão desejadas e eu com meus livros e óculos de grau e minha cara de nerd. Sozinha. E eu só queria um abraço. Desses que sufoca e faz sofrer quando afasta. Um urso. E me dou quando quero receber. E não recebo nunca. Sou carente, careta, cabeça, coração. Sei guardar uma vida inteira dentro de mim. Não ser discreta. Ser publicação que ninguém mais quer ler, porque é complicada, é extensa. É. E sou avesso, inverso, verso. Buscando prosa, poema, texto, crônica, composição, canção e melodia. Ser além, aquém, de quem. Ser tua, só tua. Ser homem. Sou mulher.