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25/07/2012

Pré Ocupações e Queda Livre


E do que adianta acordar todos os dias e saber que tudo vai continuar sendo a mesma monotonia de sempre? De que adianta as pessoas olharem nos meus olhos com uma superficialidade felina e dizer que vai ficar tudo bem, se sei que não é verdade?

Eu realmente queria saber que um dia as coisas darão certo. Mas por favor, não peça pra que isso seja hoje. Não peça pra ser amanhã. Eu não sei quando vai ser. Enquanto isso não acontece, eu vou seguir levantando da cama, tomando meu banho e me obrigando a colocar um sorriso - falso -  no rosto para poder ser feliz, como exige essa sociedade de moral caída.

Não quero saber se a Ana tá namorando. Se o Pedro tá namorando. Se a Clara se assumiu. Foda-se isso tudo. Ninguém liga pro que eu sinto, por que eu deveria me importar com o sentimento alheio? Não. Não, muito obrigada, mas não.

Queria mesmo era poder ficar com as janelas da casa fechadas, com Renato e Maysa cantando incansavelmente na minha vitrola, aninhada no meu travesseiro e absorta do mundo. Não quero saber se a China virou potência, não quero saber se o Brasil perdeu a Copa, não me importa saber que inventaram a cura para a gripe A. Me importa minha cama. Me importa otimizar minha dor. Me deixem vivê-la, eu quero vivê-la. Não me exijam um padrão de vida que eu sei, não vou conseguir suprir.

Só por um momento eu queria poder deixar de existir. Queria poder ao extremo de ir mais longe, mais fundo. Esquecer e ser esquecida. Sair do meu mundo quando bem entender e tiver vontade. Mas não. Não me esquecem, não me deixam esquecer. Me jogam a pior notícia na cara todos os dias e esperam que eu reaja bem. "Ele tá namorando... e não é você". Eu já sei disso. Eu já sei que mais uma vez criei um mundo fantástico e ele que ele se despedaçou outra vez. "Ele tá namorando... e não é você". E querem que eu sorria a cada vez que, com olhar de pena, esses estúpidos me dirigem a palavra. Esperam que eu chore, esperneie. Mas não. Muito obrigada.

Eu não vou chorar. Eu não vou morrer. Não vou incitar nada, provocar nada. Mas também não esperem que eu levante a cabeça no dia seguinte. Tenho o direito de celebrar os três dias de lutos obrigatórios que meu coração merece. Eu sou dissimulada o suficiente a ponto de entregar meu peito ao abate e depois lhe dedicar uma oração.

Mas de verdade, me deixem aqui. Me deixem com Renato, que vai cantar em looping infinito juntos aos meus ouvidos meu pedido maior pro mundo (Só me deixe aqui quieto, isso passa), deitada no escuro. Eu fico bem assim, não é preciso preocupações.

Doravante, não sei. Procuro nem. Porque de dor, eu prefiro - e preciso - viver a presente. O resto depois vem. Na hora certa vem. E saberá ser bem aproveitada.