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13/09/2012

Winter


Ela sorri desajeitadamente. Um sorriso torto de quem tem vergonha de mostrar-se ao mundo. Mas disfarça bem. Tem muitos amigos, vai à festas, está sempre acompanhada. Mas no clarear do dia, quando os sapatos de saltos trocam de membros e ela chega em casa, o delineador que tão bem marcava seus olhos verdes escorre, manchando todo o seu rosto que agora vermelho sente-se mal.

Ela é uma rainha, mas não sabe. Sente-se sozinha a todo e qualquer momento. Acha que não sabe ser feliz. É uma prisioneira do passado, um passado que constantemente grita ao seu ouvido as mesmas frases que seus colegas da escola primária lhe diziam. Perdida, isolada. Quer correr, mas não tem forças. Não sabe levantar a voz. Sente-se mal. Lembra o passado. Era uma criança que não sabia defender-se. Ouvia e aguentava toda aquela humilhação calada, não reclamava. Não podia se dizer que era fraca, pois ninguém nunca a viu chorar por isso. Mas isso era tão corriqueiro. Quando chegava em casa, sua mãe não entendia porque tanta lágrima, tanta dor. Por vezes, implorava que a mãe ficasse ali. Precisava de sua mão e sua presença, ao menos por alguns instantes, para que pudesse ficar em paz. Sua mãe não a compreendia. Sua mãe não a compreende. Sua irmã não a compreende. Ela é marcada, mas ninguém se importa.

Então exagera. Exagera na cor. Exagera no tom, no som, no dom. Precisa de alguém que a enxergue, não que a veja apenas. Quer provar a todos que sua essência vai além da negritude que contorna seus olhos e das palavras que fluem de seus pensamentos e que ela não sabe organizar em frases. Um infinito de estrelas sem constelações, mas que mesmo assim iluminam o céu. Procura a ursa-menor, mas não lhe é essa. Não compreendeu que seu destino é ursa-maior. Tão grande. Grande como sua alma, como a sua calma. Que ela esconde. E personifica seu ser em ser louco. E canta. E ama. É contraditória e sabe. Detesta ser assim. Mas, o que se há de fazer?

Espera que algum dia, alguém lhe acolha. Escolha e recolha suas cicatrizes para curá-las. Alguém que lhe explique, com um carinho fraterno, que é tão normal ficar assim, perdido. Que saiba secar suas lágrimas com afeição e abraçá-la, acalmando-a com um chavão. "Vai ficar tudo bem!". Ela sabe que sim, só que esse ficar bem demora tanto para chegar para ela. Mas ela espera. Espera.