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01/08/2014

Sobresemanas.

Olha, eu sei que pode não ser nada disso. Sei que pode ser tudo isso. E também sei que isso pode não ser nada. Mas antes de qualquer coisa, me faz um café que eu explico cada coisa no seu tempo. Sem açucar, por favor.

Fato é que eu me perdi enquanto você acarinhava o meu cabelo numa daquelas vezes que a gente saiu pra se conhecer. Ou talvez foi o abraço mais forte na primeira vez que eu fui embora. Talvez você quisesse que eu ficasse, eu não sei. Eu queria ficar. Até hoje eu quero ficar. Não, não coloca muita água, não gosto de café que não seja bem encorpado.

Eu não sei se você também notou, mas começou a existir um brilho nos seus olhos enquanto você me olhava. Isso me assustou. Você não me conhecia, era a segunda vez que me via. Nesse dia também, eu descobri de toda a história da sua família e que você passou uma vida inteira sem saber pronunciar seu sobrenome direito. Acontece, eu também não saberia se o tivesse. Soube da poodle que você chama de tapete. E principalmente do orgulho de ser quem é. Senti vontade, entre um café e outro, de segurar a sua mão e pedir da maneira mais desesperada possível que você nunca me deixasse. Não faz café instantâneo, eu não gosto. Faz ele passado mesmo. E forte.

Confesso. Eu não dava nada por você. Nadinha. Mas eu não sei o porquê. Precisou uma outra noite pra saber que eu estava completamente enganada. Você não avançou. Você entendeu. Eu vi a oportunidade que eu perderia se fosse estúpida o suficiente pra te deixar partir naquela hora. Não partiu. E segurou minha mão. Eu esperei menos. Então veio o abraço mais acolhedor que eu experimentei. Eram dois metros de braços me envolvendo, como querer ir embora? Foi ai que eu vi que não tinha mais saída. Já ferveu a água?

Em duas semanas, minha vida tinha virado de ponta cabeça e eu não podia mais controlar isso. Deixar rolar seria a solução mais exata. Mas eu sou medrosa. Queria que você gostasse de mim, queria que fosse bonito-e-pra-sempre-amém. "Não espera nada. Só vem. Vem e deixa as coisas acontecerem como tiver que ser". Eu, medo. Você, paciência. Qualquer pessoa desistiria. Você continuou ali porque investir mesmo com uma cotação baixa da bolsa, ainda é negócio. Bolsa é jogo de azar. Assim como relacionamentos. Eu nunca fui boa em jogos de azar. Mas não custava tentar uma outra vez. O filtro já tá certinho dentro da cafeteira? Você não sabe como colocar o filtro direito e sempre acaba indo pó pro café pronto.

Eu não sei se isso vai durar. Eu não queria que fosse tão pouco que eu ficasse a mercê de tão pouca coisa que aconteceu. Foi intenso, foi gostoso. Essas tem sido as melhores semanas que eu tenho passado. Eu nunca soube ser tão feliz abrindo mão de todos os meus pré-conceitos antes. Eu nunca não pensei tanto quanto agora. Você tem me feito bem. Isso tem se apresentado tão bonito aos meus olhos que, o brilho que antes existia só nos seus, hoje por osmose estão em mim. Sim, por osmose. Seus olhos em cima dos meus tem sido uma dádiva, um aprendizado.

Droga. Me apressei de novo. Não esperei o café ficar pronto e rasguei o verbo. Desculpa, eu não sei esperar. Imperfeições. Mesmo assim eu continuo bonitinha. Vou ser bonitinha com a maquiagem borrada e cara de sono. Se você diz, eu acredito de olhos fechados. Depois do convite do não existe futuro, existe o hoje, eu me recuso a recusar qualquer convite que venha da sua parte. Na caneca grande, por favor.

Então, é isso. E se eu pudesse te fazer um pedido, seria: Vem. Sem espera, sem amanhã. E fica. Eu gostaria que você ficasse. De verdade. Não recusa um pedido sincero de um quase ruiva cheia de sardas. E fica.

Fica?